Recordar Nicolau Breyner
“Como está Sr. Feliz?; Como está Sr. Contente?; Diga à gente, diga à gente; Como vai este país…”. A rábula de Nicolau Breyner no programa de entretenimento “Nicolau no País das Maravilhas”, em 1975, acabaria por ficar na memória de gerações e gerações.
Mas a carreira do ator começaria bem antes da Revolução dos Cravos, quando saiu de Serpa para estudar Direito e acabou por se apaixonar pelo canto e pelo teatro. O Conservatório Nacional viria a acolhê-lo e, nos anos seguintes, o alentejano não mais abandonaria os palcos.
Começa no Teatro Nacional Popular, sob a mão de Francisco Carlos Lopes Ribeiro, mais conhecido por Ribeirinho, acabando por tornar-se num reconhecido ator com séries televisivas de grande impacto como “Filipa de Vilhena” (1962) ou “Os Fidalgos da Casa Mourisca” (1964), um romance póstumo do escritor Júlio Dinis.
Com o fim da ditadura em Portugal dá o salto para o pequeno ecrã em nome próprio, onde se estreia com “Nicolau no País das Maravilhas” (1975) e onde apresenta o jovem Herman José com quem imortaliza a rábula “Senhor Feliz e Senhor Contente”. Na década de 80, além de ator, Nicolau Breyner faz direção de atores e torna-se co-autor do guião da primeira novela portuguesa, “Vila Faia” (1982), onde fez história com a personagem João Godunha, um ex-pugilista com uma vida difícil.
Daí nunca mais parou. Funda a NBP Produções e participa como autor, escritor ou produtor em várias séries que marcariam as décadas seguintes, entre elas “Gente Fina é Outra Coisa” (1982), “Eu Show Nico” (1988), “Euronico” (1990), “Nico D’Obra” (1993), “Aqui não Há Quem Viva” (2006), “Conde D’Abranhos” (2000), “A Ferreirinha” (2004), “João Semana” (2005), “Equador” (2009) ou uma “Família Açoriana” (2013), entre muitas outras.
No capítulo das novelas, além de ter dado o pontapé de saída com a primeira produção nacional, participou em dezenas delas. De “Origens” (1983) e “Cinzas” (1992), passando por “Verão Quente” (1993), “Fúria de Viver” (2002), “Vingança” (2007), “Flor do Mar” (2008), “Meu Amor” (2009), “Jardins Proibidos” (2015) ou “A Impostora” (2016), a última na qual participou.
Mas a sua carreira não se limitou aos palcos ou ao pequeno ecrã. Ao longo da sua longa vida participou em mais de 50 longas metragens, tendo trabalhado com realizadores como Artur Semedo, Luís Galvão Teles, Jorge Paixão da Costa, António Pedro Vasconcelos, Joaquim Leitão, Leonel Vieira ou João Botelho.
Este ano, já pudemos vê-lo no filme “Stefan Zweig: Adeus, Europa”, de Maria Schrader. E finalmente agora, chega a sua última aparição no grande ecrã: “A Ilha dos Cães”, um drama de Jorge António, numa co-produção portuguesa e são-tomense, inspirada pelo romance “Os Senhores do Areal”, do escritor angolano Henrique Abranches.
O filme conta a história de uma ilha onde o colonialismo fez história mas que agora quer deixar o passado para trás e atrair turistas com a construção de um resort de luxo. Ao lado de Nicolau Breyner, estão os atores Miguel Hurst, Ângelo Torres, João Cabral e Ciomara Morais. Uma derradeira oportunidade para ver o génio de Nicolau Breyner.