Pedro Chagas Freitas: “Amar é a maior das formas de heroísmo”

Acaba de lançar “Prometo Amar”, o quarto livro da saga “Prometo” e aquele com o qual Pedro Chagas Freitas diz mais se identificar.

É o autor português com o maior número de seguidores nas suas redes sociais – só no Facebook este número ultrapassa o milhão. Ainda assim, Pedro Chagas Freitas não se identifica com o título de escritor e a crítica especializada também teima em não o reconhecer como tal. “Não perco um segundo da minha vida a pensar nisso”.

Foi nadador-salvador, operário fabril, barman, futebolista, jornalista e publicitário, até se render totalmente à escrita, que no entanto assume fazer parte da sua vida desde que aprendeu “a juntar as letras”.

Talvez por isto, aos 38 anos, Pedro Chagas Freitas diz já ter escrito mais de 150 obras. Aos escaparates do nosso Centro acaba de chegar “Prometo Amar”, o seu 25º livro publicado e razão para uma conversa politicamente incorreta.

 

Depois de “Prometo Falhar”, “Prometo Perder” e “Prometo Falhar Todos os Dias”, mais um livro da saga Prometo. Para começarmos em jeito de provocação: não são promessas a mais?

Se calhar são, se calhar são. (risos) Mas é uma linha conceptual que aprecio bastante. Vamos ver se haverá mais irmãos ou não.

O que distingue “Prometo Amar” dos seus antecessores?

É o mais recente – e, desde logo, aquele com o qual mais me identifico. O resto será cada leitor a definir. Espero que o sintam a ler como eu o senti a escrever.

“Promete que vais errar. Promete que vais cair. Promete que nunca serás o mesmo, exactamente o mesmo, de cada vez que a vida te passar à frente. Promete que vais arriscar, promete que vais sentir. Promete que vais mexer-te, todos os dias, como um louco, a caminho do que desejas, a caminho do que desesperadamente te faz dançar, saltar, rir – ou até chorar, penar. O importante da vida, parecendo uma redundância, é estar vivo. Todos o sabem, tu também o sabes. Então porque raios ainda estás parado a ler isto? Vá: mexe-te. Promete amar.” Este pequeno texto, que serve para apresentar “Prometo Amar”, pode bem resumir as palavras de um pai a um filho que acabou de nascer?

Podia muito bem resumi-lo, sim. Ser pai será também sentir assim.

Como está a ser essa experiência recente de ser pai? Inspiradora em termos de escrita?

Inspiradora em termos de vida. Ainda não escrevi em concreto sobre isso – mas certamente, porque escrevemos, direta ou indiretamente, o que somos, hei-de escrever. 

É muitas vezes associado a um tipo de escrita recheada de punchlines e clichés. Isso é algo que se procura conscientemente ou que está lá naturalmente na sua escrita?

Não o procuro. Escrevo o que me apetece. E é só.  

Por que acha que as pessoas criticam tanto os clichés?

Terá de perguntar a essas pessoas – eu não as conheço, pelo que não posso ajudar nessa interessante busca.

Cresceu rodeado de livros? Qual o primeiro livro que o marcou?

Alguns, mas talvez escolha “Photomaton & Vox”, de Herberto Helder.  Foi uma aparição.

Sempre que lhe perguntam sobre os seus escritores de referência refere Saramago, Lobo Antunes, Herberto Helder… O que o fascina na escrita destes autores?

Fascina-me quem tem uma voz única. Quem inventa e reinventa. Sempre.

Foi nadador-salvador, operário fabril, barman, futebolista… Alguma destas profissões deixa mais saudades e poderia sobrepor-se à escrita?

Qualquer uma delas poderia ser a minha profissão. Feliz ou infelizmente falhei redondamente em todas elas. Por isso é que estou aqui hoje.

Ainda assim, e apesar de dizer que jogava mal em todas as posições, chegou a jogar futebol profissionalmente. Como acaba essa carreira?

Acaba por ter de tomar a decisão: estudar ou jogar? Resolvi estudar. 

E resolve estudar Linguística. Porquê?

Porque queria ter ferramentas linguísticas. Porque queria conhecer melhor o funcionamento de alguns dos mecanismos linguísticos. Consegui isso, sem qualquer dúvida: aprendi como um louco. Mas até nisso falhei – porque não terminei o curso. 

Como foi parar ao jornal “A Bola”?

Escrevi e enviei uma carta aberta para o diretor do jornal, narrando a minha história e o que tanto queria fazer, e poucos dias depois chamaram-me. Ainda estava na faculdade e esse momento fez-me perceber que se pudesse iria dedicar a minha vida a escrever. Que no fundo não era, como não é, trabalho nenhum. 

Troca o jornalismo pela publicidade porquê? O que ganhou na publicidade que se tenha revelado útil na escrita de livros?

Desde há muito que queria experimentar a escrita publicitária: porque era, e sou, fascinado pelo poder de síntese. E assim foi: a escrita publicitária, para além disso, trouxe treino, trouxe capacidade de trabalho na escrita, trouxe disciplina. Trouxe muitas coisas. Foi uma maravilha.

Quando começou efetivamente a escrever? E eram sobre quê esses primeiros escritos?

Desde que comecei a juntar as letras. De tudo um pouco. Desde histórias mirabolantes até reflexões mais ou menos ingénuas. 

Lança “Mata-me”, o primeiro livro, em 2005. Nessa altura pediu conselhos a alguém?

Enviei os meus textos a várias pessoas — das mais diversas áreas. Todas elas foram importantes nessa fase. 

Que primeiros conselhos / críticas ouviu que mais o marcaram? Ainda hoje é muito sensível às críticas negativas?

Nenhuma em especial. Hoje não perco tempo com elas.

A verdade é que é um dos escritores portugueses mais traduzido, mais vendido e com maior legião de fãs nas plataformas digitais. No entanto, é constantemente alvo das críticas de outros escritores e de críticos literários. Como lida com essa dicotomia?

Não perco tempo com isso. Prefiro escrever. 

Nunca negou que escreve para ser lido pelo maior número de pessoas, mas ao mesmo tempo diz que tem consciência que, quando começou a escrever coisas que mais pessoas lêem, aquilo que escreve deixou de ser bom para a crítica especializada. Insiste em demarcar-se dos intelectuais ou os intelectuais é que insistem em demarcar-se de si? Vê essa rejeição da classe como inveja?

Não perco um segundo da minha vida a pensar nisso. 

Diz que escrever é uma necessidade, mas ao mesmo tempo acha que não tem feitio de escritor e apresenta-se não como escritor, mas como “um gajo que escreve cenas”. Isso é provocação ou realidade?

É o que eu sinto. Só isso. 

Desde os 18 anos já escreveu mais de 150 livros. Em 2010, publicou 10 livros. Escreve todos os dias? Quais os seus rituais? Costuma dizer que precisa de estar desconfortável para escrever…

Tenho de escrever todos os dias. É uma necessidade. Não tenho nenhum ritual em especial, digo eu. A minha mulher diz que tenho alguns, mas eu não acredito. (risos)

Tem 1.344.578 seguidores nas suas redes. Costumam abordá-lo? Responde sempre? Qual a pergunta/ abordagem mais surpreendente que já lhe fizeram? Já houve pedidos de casamento?

Recebo dezenas de mensagens por dia. Quase nenhuma traz algo que não esteja directamente relacionado com os textos. Sou um felizardo. (risos)

A verdade é que casou com uma fã, portanto é normal que as fãs alimentem certas fantasias em relação a si…

Casei com a mulher que amo — e não com uma fã. As mensagens que recebo dos meus leitores, homens e mulheres, são maravilhosas e adoro recebê-las. 

Diz que “O amor é a coisa mais importante do mundo” e assume-se como um lamechas. É um romântico capaz de cometer loucuras? E o que é isso de ser lamechas?

Se é para cometer loucuras que seja por amor. (risos) Ser lamechas é sentir. Não ter medo de sentir. Ou ter medo de sentir e continuar a querer sentir. Ter essa coragem. Por vezes amar é uma forma de heroísmo. Ou melhor: amar é sempre uma forma de heroísmo — a maior das formas de heroísmo. 

Diz que não sabe se daqui a dois anos ou três vai continuar dedicado à escrita. O que se imagina a fazer?

Não faço ideia. E é isso que é fascinante, não é?

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