Covilhã: (bem) mais do que uma Manchester de Portugal

Associada à indústria têxtil durante séculos, a Covilhã é hoje uma (multipli)cidade de outras coisas. A propósito do Dia do Profissional Têxtil, celebrado a 4 de julho, fomos revisitar um pouco da nossa história.

Referida por Gil Vicente há meio milhar de anos pelos seus “panos finos”, a Covilhã foi um pólo industrial em Portugal, que ganhou especial relevo a partir do século XVII. O modo cruzeiro foi atingido quando, em pleno reinado de D. João IV, houve uma época de carência de cereais que levou ao desenvolvimento de uma série de infraestruturas (moinhos, lagares e afins) nesta região, ideais para a produção de lãs. Assim nasceu a primeira grande fábrica têxtil da Covilhã, a Fábrica Real, na ribeira da Degoldra; e, com ela, a indústria têxtil nos moldes em que a conhecemos (mais coisa, menos coisa), com muitas outras fábricas a surgir sobretudo pelas linhas de água que descem da serra à cidade.

A indústria têxtil cresceu com a Covilhã e a Covilhã com ela: andavam de mãos dadas tanto a nível económico como social, havendo uma considerável percentagem de covilhanenses ligados aos têxteis. As classes sociais dividiam-se de grosso modo entre operários fabris e empresários industriais (empregados e empregadores) e o negócio parecia florescer: as fábricas multiplicavam-se como cerejas na primavera.

Foi por volta dos anos 1970 que a Covilhã se transformou e deixou de ser apelidada de “metrópole da lã” ou “Manchester portuguesa”. O setor secundário perdeu força em todo o país e a Beira Interior sentiu-o no pelo – ou melhor, na lã. Outros setores ganharam força (em especial os serviços) e as indústrias perderam-na face à feroz concorrência com que se foram cruzando cada vez mais. E nada voltou a ser como era.

O que é certo é que atualmente continuamos a ser especialistas em lã e em “panos finos”, com mais de 130 empresas (de várias áreas, é certo) registadas nas zonas industriais do Tortosendo e do Canhoso, e que o movimento que se sente por cá se mantém cosmopolita, numa união harmoniosa entre as zonas industriais e as rurais, como a própria azáfama da indústria têxtil nos ensinou ao longo de muitos anos.

Ao ganha-pão do tempo de Gil Vicente, juntaram-se muitos (e bons) outros. Entre tantos, destacam-se a UBI, responsável por um considerável número de postos de trabalho na Beira Interior e pelo dinamismo que os jovens vindos de todo o país (e além fronteiras) nos trazem, desde 1986; e, claro, o turismo que se desenrolou da serra para fora, tal qual um novelo de lã. Resta-nos esperar pelos próximos capítulos – e mal podemos esperar.

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